2. Os que percebem de música e os que não percebem

Iwata:

Totaka-san, quando assumiste o cargo de director, deves ter experimentado algumas ideias tuas. O jogo ficou preparado depois disso?

Totaka:

Não, de modo algum.

Iwata:

Lembras-te quando se deu o ponto de viragem?

Totaka:

Quando desistimos da notação musical. Tocar sem uma partitura no ecrã era magnífico.

Iwata:

Com partitura quer dizer indicações, como outros jogos musicais normalmente têm, para saber qual o compasso correcto. Deixar isso de fora foi um movimento drástico. Porque decidiste isso?

Iwata Asks
Totaka:

Quando tocava no modo para vários jogadores com outros membros do grupo, reparei que não ouvíamos a actuação uns dos outros.

Iwata:

Porque estavam concentrados na partitura. (risos)

Totaka:

Exacto. Estávamos concentrados a premir botões.

Iwata:

Como músico, não conseguias sentir prazer com a música, pois não?

Totaka:

Não, de modo algum. Quando toco música nos meus tempos livres, o prazer dá-se quando me deixo levar. Mas senti que isso não acontecia porque estava muito focado na partitura. Acontece o mesmo quando toco um instrumento real. Se sigo a partitura, não sinto aquele prazer de libertação. É muito melhor obter a essência geral da partitura e deixar-nos levar enquanto tocamos.

Iwata:

Compreendo. Então desististe das partituras. Todos concordaram de imediato?

Totaka:

Não. (risos)

Morii:

Lutei com unhas e dentes. (risos)

Iwata Asks
Iwata:

A sério?! Ah, estou a perceber! Não conseguia conceber um jogo musical sem qualquer tipo de notação musical.

Morii:

Exacto. Pessoas como o Totaka-san, que percebem de música, têm ritmo e conseguem manter o compasso, por isso não importa se existe uma partitura ou não. Mas pessoas como eu, que nem sequer tocava flauta na escola primária, não sabem o que fazer ou quando o fazer sem uma indicação.

Iwata:

Ah, então ao nível de experiência em música…

Morii:

Não tenho nenhuma.

Totaka:

Nenhuma mesmo.

Wada:

Até menos que eu!

Iwata:

Isso é engraçado. (risos) Esta equipa teve um músico profissional e alguém que não percebia nada de música!

Morii:

Foi por isso que me opus à retirada das partituras durante algum tempo.

Totaka:

Sim. Um longo tempo. (risos)

Iwata:

Enquanto eles decidiam aquilo, o que andava a fazer Wada-san?

Wada:

Nada de especial.

Iwata:

Isso não é bom! (risos)

Wada:

No que se refere a partituras, ainda que não tenha nenhuma educação específica em música, conseguia tocar sem elas. Não era extraordinário, mas…

Iwata:

És bom com as mãos? Será por isso?

Wada:

Talvez. É óbvio que o jogo não estava feito para ser fácil como é agora, mas gosto de dar o meu melhor mesmo com restrições, por isso diverti-me bastante. Morii-kun, por outro lado, transpirava.

Morii:

Era triste. (risos)

Iwata:

Ha ha ha!

Wada:

Mas ele era perfeito para perceber onde outros como ele iriam ter dificuldades. Por isso, muitas características do jogo foram da responsabilidade dele.

Iwata Asks
Iwata:

Podes dar-me alguns exemplos?

Morii:

As aulas.

Totaka:

Exacto.

Morii:

Fiz com que a equipa criasse a quantidade mínima necessária de

Video: aulas

Totaka-san, quando assumiste o cargo de director, deves ter experimentado algumas ideias tuas. O jogo ficou preparado depois disso?
aulas que, quando repetidas, permitissem aos jogadores conseguir algo que soasse bem, de forma a que pessoas como eu conseguissem fazer música como o Totaka-san.  

Totaka:

Inicialmente, gravaste uma canção, não foi?

Morii:

Sim, sim. Exactamente. (risos)

Totaka:

Algo parecido com jazz.

Wada:

Alguém disse: “Porque não experimentas isto?", e seguindo as aulas conseguiu passar à sua maneira. Estava entusiasmado, gritando: “Consegui!”

Morii:

Mostrei a todas as pessoas.

Wada:

Correcto! Pois mostrou!

Morii:

Depois de ver um vídeo feito pelo Totaka-san, queria fazer a mesma coisa. Perguntei ao Hikino-san, o subdirector, como podia fazer algo assim, algo que soasse a jazz. Respondeu-me que tinha que começar com cada parte e depois tudo se conjugaria.

Iwata:

Então, a actuação que criou era parecida com o jazz.

Morii:

Sim! (risos) Diverti-me e gabei-me a todos, dizendo: “Oiçam isto!” (risos)

Iwata Asks
Totaka:

Ele conseguiu. (risos) Tocou para mim e soava bem.

Morii:

Vê? Todos adoraram.

Iwata:

Alguém que não sabia tocar música, conseguiu gravar algo parecido com jazz. Sentiu que tinha alcançado algo e os outros acharam incrível.

Totaka:

Fiquei surpreendido.

Wada:

Eu também. Não era tecnicamente perfeito. Era algo diferente, misterioso.

Iwata:

Havia um elemento humano.

Wada:

Exactamente.

Totaka:

Depois, começaram a surgir as ideias. Pensámos: “Vamos fazer géneros diferentes! Se aprenderes isto, consegues tocar jazz! Ou se fizeres isto, um tango! Aquela característica não seria divertida?”

Iwata Asks
Morii:

Começámos a avançar.

Iwata:

Repentinamente?

Totaka:

Sim. Depois, conseguimos tudo ao mesmo tempo.

Morii:

Num momento criativo, Totaka-san acabou uma porção de géneros.

Totaka:

Devemos isso à primeira actuação do Morii!

Iwata:

Então foi bom não terem começado apenas com pessoas boas em música.

Totaka:

Definitivamente. Mas por vezes faltava-lhe algum conhecimento. Por vezes não acreditava que não sabia aquelas coisas! (risos)

Morii:

Estava sempre a perguntar o que era um compasso. (risos)(Iwata ri-se)