2. Uma mulher muito envolvente

Iwata:

Sakaguchi-san, como reúnes uma equipa?

Sakaguchi:

Para mim, as ilustrações para o aspeto do jogo e as suas personagens são muito importantes. Conversei com o Fujisaka-san, que também está aqui hoje, e trabalhámos juntos no processo de criar as imagens gráficas para The Last Story. Os desenhos de Fujisaka-sanc são o que tornou possível o mundo de jogo.

Iwata:

...Agora, Fujisaka-san, peço desculpa por te ter feito esperar tanto tempo! (risos)

Fujisaka:

Nem por isso! (risos)

Iwata:

Finalmente temos a oportunidade de falar com Fujisaka-san. (risos) Podes apresentar-te, por favor?

Iwata Asks
Fujisaka:

Chamo-me Kimihiko Fujisaka. (risos) Estive a cargo do design das personagens de The Last Story.

Iwata:

As tuas imagens têm muitos fãs, incluindo funcionários da Nintendo. Ouvi muita gente a comentar que os gráficos eram muito apelativos.

Fujisaka:

Muito obrigado.

Iwata:

Que tipo de pedidos fez o Sakaguchi-san quando começaste a trabalhar nos gráficos?

Fujisaka:

Bem, não lhes chamaria propriamente “pedidos”... No início tínhamos uma ideia simples do enredo e Sakaguchi-san perguntava-me: “O que imaginas neste momento?” Então tenho liberdade suficiente para avançar e fazer as coisas à minha maneira.

Iwata:

Há quanto tempo é que vocês os dois se conhecem?

Sakaguchi:

Diria que há cerca de três ou quatro anos.

Fujisaka:

Na verdade, não nos conhecemos há tanto tempo. É por isso que é para mim um grande privilégio poder fazer parte desta discussão com Sakaguchi-san.

Sakaguchi:

Oh, vá lá! (risos)

Iwata:

Em que altura te envolveste neste projeto?

Fujisaka:

Envolvi-me neste projeto logo ao início. Mas uma vez que Sakaguchi-san vive no Havai, mas uma vez que achava que ele estava um pouco afastado, ao início tinha um pouco de medo de não conseguirmos comunicar uns com os outros. Mas, na verdade, quando o desenvolvimento começou, esse medo desapareceu e fizemos progressos significativos. Senti que Sakaguchi-san era alguém que alargava o alcance das minhas imagens.

Iwata:

Então sentes que expandiste o teu potencial.

Fujisaka:

Exatamente. E isso significou que gostei de criar essas imagens ainda mais.

Sakaguchi:

Sou um grande fã do seu trabalho, particularmente das suas imagens de personagens femininas. Sabes aquela imagem dela de perfil?... Bem, se existisse mesmo uma mulher assim, eu ficaria completamente rendido! (risos)

Iwata Asks
Iwata:

(risos) Ouvi várias pessoas lá no trabalho a dizerem: “Acho que acabei de me apaixonar...”

Sakaguchi:

Podias mesmo apaixonar-te por ela.

Fujisaka:

(sereno) Hmmm... Será...

Sakaguchi:

(com convicção) Acredita, ela é fantástica!

Todos:

(risos)

Iwata:

Então, Sakaguchi-san, soube que conheceste o Fujisaka-san através do vosso emprego anterior, e foi assim que se deu a vossa colaboração.

Sakaguchi:

Certo.

Iwata:

Então é verdade que gostaste do processo de ver o mundo que havias imaginado materializado por Fujisaka-san?

Sakaguchi:

É, sim, embora tenha havido casos em que o mundo do jogo e as personalidades das personagens eram ajustadas para se enquadrarem nas imagens das personagens que Fujisaka-san tinha inventado.

Iwata:

A sério? Isso é bastante surpreendente. Tinha assumido que Sakaguchi-san tinha concebido a imagem de todo o mundo do jogo desde o início.

Sakaguchi:

Não, não é verdade. Se vir alguma coisa de que goste, incluo-a, mesmo que outra pessoa a tenha inventado, da mesma forma que uma pessoa que faz um filme ou encena uma peça adapta as coisas, dependendo da atriz. Se essa atriz tiver um estilo único, quererão aproveitá-lo ao máximo.

Iwata:

Então se tivesses um ator com uma expressão particularmente cativante ou num estilo de representação, tecerias a história em torno dele para fazer com que esses pontos fortes sobressaíssem.

Sakaguchi:

Certo. As imagens que cria têm mesmo esse tipo de apelo. Fiquei mesmo grato por ter Fujisaka-san na equipa, em vez de sentir simplesmente que era uma sorte tê-lo connosco. Foi maioritariamente devido às suas capacidades que os gráficos de The Last Story tiveram o resultado que tiveram. (vira-se para Fujisaka) O que é? Ficaste sem palavras depois de teres recebido esses elogios todos?

Iwata Asks
Fujisaka:

...Estou um pouco envergonhado. (risos)

Iwata:

Há quanto tempo estás envolvido na indústria de jogos, Fujisaka-san?

Fujisaka:

Este é o meu 11.º ano. A minha carreira ainda é relativamente curta, em comparação com muitos outros na indústria.

Iwata:

Bem, não diria tanto. Trabalhaste com pessoas para além de Sakaguchi-san, não trabalhaste?

Fujisaka:

Sim. Antes deste projeto, havia trabalhado muito em empresas de desenvolvimento de software focadas no aspeto dos dados, ao mesmo tempo que desenhávamos as personagens.

Iwata:

Então, trabalhar com Sakaguchi-san significou uma grande mudança na forma como trabalhavas. Isso deve ter sido emocionante.

Fujisaka:

Foi, sim. Tanto o método de trabalho como a estrutura do projeto eram novidade para mim. Experienciar tanto pela primeira vez significou que eu estava muito entusiasmado e feliz por poder participar.

Iwata:

Quando trabalhaste com o Sakaguchi-san, com que tipo de impressão ficaste dele?

Fujisaka:

Deixa-me pensar... Bem, acho que aquilo que vês é aquilo que eu sou. (risos)

Sakaguchi:

(risos)

Fujisaka:

Vais perdoar-me a expressão mas eu diria que ele se assemelha muito ao típico miúdo mais velho lá do bairro.

Sakaguchi:

Isso é bom! Gosto disso! (risos)

Fujisaka:

Mas quando estás a trabalhar com ele, sentes esta vitalidade real. Sinto que isto me deu energia e que ele conseguiu extrair muito de mim.

Iwata:

Sakaguchi-san está a transbordar desta energia que serve para incitar toda a gente à sua volta. A impressão que tenho é a desta energia toda que é carregada e depois libertada no decurso do processo de desenvolvimento. Fujisaka-san, como foi testemunhar isto em primeira mão?

Iwata Asks
Fujisaka:

É mesmo incessante. Mal terminávamos uma coisa, ele passava logo para a outra. Ele é a primeira pessoa que conheci que tem este nível de energia. Senti que estava a ser arrastado com ele ou que tinha de tentar acompanhá-lo.

Iwata:

Então é isso que queres dizer quando dizes que ele tentava extrair o máximo de ti?

Fujisaka:

Certo. Sakaguchi-san não é pessoa de falar muito. É por isso que sentes mesmo esta vontade arrebatadora de o surpreender ou de fazer com que diga: “Uau, é fantástico!” Quando a opinião dele é positiva, transmite-a mas quando não ficou muito impressionado, não é tão sincero... (risos)

Sakaguchi:

Não digo nada, não é? (risos)

Iwata:

Dá para perceber que vais ter de regressar à fase do desenho. (risos)

Fujisaka:

Ainda assim, penso que esta forma de fazer as coisas acabou por funcionar bem.