3. Uma nova ambição: o melhor ângulo

Iwata:

O formato original do Nintendo 3DS Guide: Louvre esteve disponível para aluguer no museu desde abril de 2013. Agora, só está disponível como aplicação para download pago. Há funcionalidades novas?

Miyamoto:

Conseguimos acrescentar alguns elementos na versão disponível para venda que não tinham sido incluídos na versão de guia do museu. Tínhamos criado uma série de funcionalidades diferentes para o guia original, mas, como os visitantes do museu só têm os aparelhos consigo durante algumas horas, sentimos que era demasiada informação para um período de tempo tão curto.

Iwata:

Essa questão foi referida durante o desenvolvimento. Acabámos por mudar um pouco a direção do projeto e transformá-la unicamente numa aplicação de guia para usar no local. Por isso, a versão de download tem funcionalidades que não foram incluídas na versão que estava em uso no Louvre.

Miyamoto:

Exatamente. A versão digital tem funcionalidades que te permitem gerar uma visita guiada automaticamente. Também pode ser usada como um suporte para fotografias com um relógio, que exibirá fotografias das exposições e das obras de arte aleatoriamente. Também permite reproduzir automaticamente toda a informação sobre cada exposição e selecionar e visualizar qualquer uma delas. Por isso, enquanto produto autónomo, tem bastantes funcionalidades de que podes tirar proveito.

Iwata:

Por outras palavras, não deixaram nada de fora.

Miyamoto:

Certo. Se trouxeres esta aplicação para o museu, também podes usar a funcionalidade de deteção da localização que está disponível em todo o museu. Também temos toda a informação em formato infantil para os miúdos, como uma visita com perguntas e respostas. Para quem se move de cadeira de rodas, o guia pode mostrar todos os percursos utilizando elevadores. Podes passar dias a divertir-te com o Louvre! (risos)

Iwata:

Ouvir o guia e aprender tudo é tão divertido que te faz querer aprender ainda mais.

Miyamoto:

É verdade. Como as explicações originais do audioguia foram criadas em França, têm aquele “je ne sais quoi” francês.

Iwata:

Certo.

Miyamoto:

Por exemplo, começam com “Ouve com atenção, por favor. Acompanha o ritmo dos meus passos enquanto andas.” De seguida, ouves o som de passos no átrio e, se andares ao mesmo tempo, chegarás ao destino no momento exato em que os passos terminarem. É claro que diferentes pessoas andam a diferentes velocidades, mas disseram-nos para não retirarmos essa parte. (risos)

Iwata:

Ah, então essa parte era muito importante.

Miyamoto:

Como a tradução da versão japonesa pretendeu respeitar e retratar com precisão as descrições académicas originais, há partes que soam pouco naturais. Quisemos mudar algumas destas traduções para que pudessem ser mais facilmente compreendidas em japonês. Mas, quando nos disseram que não podíamos mudá-las assim tão facilmente, acabámos por aceitar e dar prioridade a essas traduções, que tinham por base uma perspetiva académica. (risos)

Iwata:

Estou a ver.

Miyamoto:

Como as explicações eram científicas, teríamos de consultar especialistas na área em questão e pedir-lhes que revissem as alterações que queríamos implementar. No entanto, recebemos autorização para alterar algumas das explicações em japonês na versão para download que estamos a vender no Japão e que só estarão incluídas no download.

Iwata:

É verdade, como é que fizeram a digitalização em 3D usada nas fotografias em 3D das estátuas?

Iwata Asks
Miyamoto:

Hoje em dia, há vários tipos de leitores óticos disponíveis. A forma mais fácil, utilizando a última tecnologia de ponta disponível, era usar um leitor ótico portátil e digitalizar as estátuas dessa forma. Para as estátuas maiores, usámos um escadote e digitalizámo-las de cima para baixo. De seguida, introduzimos texturas nos modelos que criámos para que os modelos em 3D ficassem iguais aos originais. Os designers de 3D foram incumbidos de fazer corresponder na perfeição os modelos em 3D a fotografias das obras.

Iwata:

Mas também deve ter havido algumas obras difíceis de fotografar, certo? Obras em que não podiam mexer ou que não podiam retirar da caixa de vidro...

Miyamoto:

É verdade. Só poderíamos fotografar as obras expostas em caixas de vidro se abríssemos as caixas. Mas, abrir uma caixa dessas não é uma tarefa fácil, porque até a humidade é regulada para preservar a peça que está lá dentro.

Iwata:

E não queriam correr o risco de estragar qualquer coisa sem querer.

Miyamoto:

E o mesmo se aplica às estátuas maiores – não queres que aconteça nenhum acidente. Por isso, o que fizemos foi digitalizar uma réplica em tamanho real que fora moldada segundo o original e, depois, aperfeiçoámos os detalhes com base na estátua verdadeira.

Iwata:

Ah, estou a ver.

Miyamoto:

Pois. Os dados recolhidos destinam-se a ser usados nesta aplicação, mas como se trata de modelos em 3D, se introduzirmos a estrutura relevante, podemos, por exemplo, pôr a estátua a dar golpes de espada como um guerreiro.

Iwata:

O quê? A estátua pode dar golpes de espada?

Miyamoto:

Não, não podes fazer isso na aplicação. Eu queria fazê-lo, mas, compreensivelmente, disseram-nos que não. (risos)

Iwata Asks
Iwata:

(risos)

Miyamoto:

Por isso, se quisermos, até podemos pôr a Nice de Samotrácia a bater as asas. Temos o material para fazê-lo, desde que o Louvre nos dê autorização…

Iwata:

Quando se consegue chegar assim tão longe, é quase como se se tratasse de um filme de Hollywood.

Miyamoto:

Adoraria poder, um dia, trabalhar com ações desse tipo.

Iwata:

É a tua nova ambição! (risos)

Miyamoto:

Tenho tantas… Há várias teorias sobre a ausência de braços da Vénus de Milo23, certo? Eu disse: “Vamos representá-las todas”, mas disseram-me: “Não, porque não há provas concludentes de como eram os braços.” Queria imenso criar algo que fizesse aparecer um par de braços se premisses um botão.23. Vénus de Milo: Estátua de uma mulher feita na Grécia Antiga. Há muitas teorias sobre os braços em falta. Um mito generalizado é que segurava uma maçã e uma reconstrução da estátua nesses moldes foi amplamente divulgada. Outras teorias sugerem que segurava uma coroa, um escudo ou um espelho.

Iwata:

“Há esta teoria, aquela também, e ainda mais esta.” (risos)

Miyamoto:

Há várias coisas desse género que acho que seriam muito divertidas, mas deparámo-nos com um conflito: a proteção e o legado da cultura versus fazer coisas em nome do entretenimento. E, no final, não consegui convencer o Louvre. Mas espero mesmo que consigamos concretizar essa ideia no futuro. É a minha próxima ambição. Quero que as pessoas que visitam o museu fiquem interessadas.

Iwata:

Adoraria ver tudo aquilo de que falaste tornar-se realidade.

Miyamoto:

É, não é? Estive muito perto do guerreiro. Adoraria que os seus olhos se focassem em mim. Adorava que se mexesse. Bem, desde que tenhamos os dados, se quisermos, podemos fazê-lo.

Iwata:

Hum, não. Não podemos mesmo! (risos)

Miyamoto:

Estava a brincar! (risos)