1. Para além da Wii

Iwata:

Obrigado por me dispensares o teu tempo hoje.

Miyamoto:

Obrigado por me receberes.

Iwata:

Sabes, quando as pessoas lerem esta entrevista, a Wii U já terá sido anunciada.

Miyamoto:

Exato.

Iwata:

Estive a olhar para o meu calendário, antes de vir para esta entrevista, e reparei que acabaram de passar três anos desde que começámos a ter reuniões sobre isto.

Iwata Asks
Miyamoto:

Sim.

Iwata:

A verdade é que nós conversávamos sobre isto numa perspetiva em que o fator decisivo não era o “quando é que a devemos lançar”, mas o que dizíamos era “vamos lá começar a pensar realmente no que virá a seguir”. Desde então, tivemos repetidas reuniões para discutir isso. E, agora, a concretização dos nossos esforços está finalmente a tomar forma.

Miyamoto:

Eu também acho isso.

Iwata:

A Nintendo lançou a consola Wii e, agora que foi aceite na vida de muitas pessoas, que ideias tens em mente, Miyamoto-san? O que é que vislumbras no caminho que temos pela frente?

Miyamoto:

Hum... Como aparelho nas salas de estar das pessoas, penso que quero fundamentalmente que a Wii se torne um aparelho que satisfaça mais.

Iwata:

Certo.

Miyamoto:

E queria que se tornasse uma ferramenta que toda a gente em casa pudesse utilizar todos os dias. Eu fiz o Wii Fit1 porque queria que fosse algo que toda a família pudesse utilizar. Nesse sentido, quis que fosse uma ferramenta na sala de estar que as pessoas pudessem proativamente ligar, sem terem de pensar muito nisso. Se eu conseguir ir mais longe, quero que as pessoas liguem a consola Wii antes de ligarem o televisor. 1 Wii Fit: Lançado em dezembro de 2007, no Japão, é um jogo de fitness que se joga em cima do acessório Wii Balance Board. Em outubro de 2009, foi lançado o Wii Fit Plus, que é uma versão expandida do Wii Fit, e inclui no disco de jogo as atividades do Wii Fit e conteúdos adicionais.

Iwata:

Portanto, quiseste prosseguir com aquilo que querias fazer com a Wii.

Miyamoto:

Sim. Eu quis melhorar o que desafiámos com a Wii, a forma como quisemos aperfeiçoá-la e torná-la um aparelho que pertence à sala de estar.

Iwata Asks
Iwata:

Estou a ver. Houve montes de coisas que, da nossa perspetiva, não fomos capazes de atingir completamente com a Wii. E, apesar de para nós ter sido natural querermos melhorar essas coisas uma a uma, falámos exaustivamente sobre como essas questões não seriam resolvidas, a não ser que ocorresse uma mudança estrutural.

Miyamoto:

Certo.

Iwata:

De facto, debatemos muito, até concordarmos com a forma que tem agora. Houve muitos avanços e retrocessos, até chegarmos onde estamos.

Miyamoto:

Pois foi. Recomeçámos muitas vezes do zero.

Iwata:

Mas, porque as pessoas fora da empresa não veem o nosso processo de desenvolvimento, quando o virem pela primeira vez, quando for revelado em 2011, poderão pensar: “Oh, a Nintendo vai adicionar um tablet à sua consola.” Acho que muitas pessoas poderão vê-lo desta forma.

Miyamoto:

Oh, sim, sim.

Iwata:

Mas, quando falámos disto pela primeira vez, os aparelhos tablet não eram muito comuns. Isto é muito parecido com o que aconteceu com a consola Nintendo 3DS: lançámos algo depois de muitos debates internos, e aconteceu que o lançamento coincidiu com a altura em que coisas daquele tipo eram extremamente populares. Acho que, ultimamente, é isto que tem acontecido connosco.

Miyamoto:

Sim, de facto tem. Se segurarmos assim (verticalmente), parece um tablet. Segurando assim (horizontalmente), e utilizando o televisor como segundo ecrã, podemos utilizá-la como uma Nintendo DS! (risos) Mas não foi por isso que pensámos em adicionar a conetividade DS2, nós não pensávamos torná-la parecido com um tablet, de todo. 2 Conetividade DS: Refere-se à conetividade entre o Wii U e as consolas da família Nintendo DS. Em 2001, a Nintendo lançou um Cabo Game Boy Advance - Nintendo GameCube, que permite a comunicação entre as consolas Nintendo GameCube e Game Boy Advance.

Iwata:

Sim, claro, também consegue fazer essas coisas, mas não foi aí que o desenvolvimento começou. Tem mais que ver com o valor de ter um ecrã nas mãos para um videojogo, e focámo-nos em como é que se pode fazer uma série de coisas sem ligar o televisor.

Miyamoto:

Exato, teve mesmo que ver com isso.